O CHUTE NA FACIT

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Na década de 70 a Honda patrocinou um TORNEIO NACIONAL DE RALI DE REGULARIDADE com provas em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro culminando com a etapa final que teve saída simultânea de São Paulo e Rio de Janeiro com a chegada em São Lourenço, MG. O premio para a equipe vencedora do torneio foi uma Honda XL 250, aquela japonesa prata sonho de consumo da galera na época e a dupla vencedora de cada etapa receberia uma cinquentinha dobrável da Honda, se não me falha a memória.
Com prêmios tão bons as equipes profissionais de Rali de Regularidade de carros se inscreveram em peso na competição. Só tinha fera de pilotos e navegadores das equipes paulistas, cariocas e mineiras, tradicionais rivais montados agora nas suas motos . Pra nós, amadores e amantes do motociclismo, foi mais um bom pretexto pra viajarmos pelas estradas dos três estados que sediaram o torneio competindo com todas aquelas feras naquele clima incrível de festa do motociclismo nacional.
Nós dispúnhamos de um cronometro com centésimo de minuto fixado em uma prancheta que ia pendurada nas costas do piloto e no colo uma calculadora mecânica “portátil”, a velha e conhecida Facit.
Assim equipados lá fomos nós para a etapa do Rio de Janeiro que sairia de Niterói com almoço em Cabo Frio e chegada à tarde novamente em Niterói.
Domingo cedinho deixamos as companheiras que foram na garupa das nossas motos no conforto do hotel da competição e saímos pra largada do rali não sem antes abastecer a Honda 7 Galo do meu irmão que era a moto inscrita. A minha Honda 500 Four ficou descansando no estacionamento do hotel.
Num posto de gasolina bem no meio da festa da largada, desci da garupa da moto, coloquei a Facit que ia pendurada no meu pescoço no meu lugar do selim enquanto meu irmão abastecia. Foi aí que aconteceu o inesperado, o Dado resolveu também descer da moto e deu um chute na calculadora.
Quando ela bateu no chão foi manivela que voou pra todo lado. Recolocamos as peças na Facit e corremos pra largada com o nervosismo normal do momento aumentadado pelo imprevisto coice na calculadora.
Largamos no nosso horário e já nos primeiros quilometros do trecho cronometrado os números não batiam e eu achei que era porque estávamos muito rápidos e pedi que o piloto reduzisse a velocidade.
Os números continuavam não batendo e eu ia pedindo pra que fosse mais devagar até que meu irmão gritou: Mais devagar só a pé!
Foi aí que caiu a ficha e mandei o Dado acelerar cada vez mais, já estávamos bem atrasados.
Rodando a 160 km/h naquela estradinha estreita que ia pra Cabo Frio e com meu irmão começando a gostar da brincadeira achei melhor pedir que voltasse à média que a planilha ordenava.
A Facit tinha uma pequena alavanca que dependendo da posição somava ou subtraia a nossa constante a cada volta da manivela e na queda passou pra posição de subtração.
Desse jeito as minhas contas não poderiam dar certo mesmo e o resultado deste rali pra nós foi lamentável.
Nas etapas seguintes arrumei uma calculadora muito mais portátil que cabia na palma da mão. A maquininha cilíndrica com sua pequena manivela na parte superior, mais parecia aqueles antigos moedores de pimenta. Era uma CURTA, uma joia da engenharia, feita em Liechtenstein.


Nos demais ralis do torneio os resultados foram um pouco melhores, mas a experiência despertou nosso interesse pelos desafios dos enduros de regularidade alguns anos mais tarde.

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