30 anos em 30 minutos
Veja como um curto passeio numa moto clássica é capaz de reviver o passado. Em uma tarde de sábado subimos os morros de Atibaia (SP) para matar a saudade de rodar nas Honda XL dos anos de 1980 da coleção do Diego Rosa. Eu fui com a XL 125, ano 1987; o Diego com a sua XL 250, ano 1984 enquanto o Alexandre Leonard encarou a XLX 350, ano 1988. Para o Alexandre foi a chance de reviver a emoção da compra de sua primeira moto, uma XLX 350 no final dos anos de 1980.
Apesar do curto passeio, Alexandre nos presenteou com seu relato emocionante e uma visão muita clara do motociclismo atual e o antigo, uma visão que gostaríamos de dividir com os amigos e leitores do Clássicas80.
Minha primeira moto foi uma Honda XLX 350 ano/modelo 1988 (se não estiver enganado). Eu a comprei com apenas 103 quilômetros rodados de um amigo sortudo. Ele adquiriu uma cota de consórcio (Remaza) da XLX e junto também comprou de uma Yamaha 600 Ténéré. Ele deu o lance para tirar a XLX e conseguiu pegá-la rápido. Mas como eu disse, ele era sortudo pois, logo me seguida – cerca de um ou dois meses – foi contemplado com no consórcio da Ténéré.
Alexandre e sua primeira moto “graças a sorte do amigo” |
Aí a sorte virou para o meu lado. Ele falou do interesse de se desfazer da XLX pois queria muito montar na maior novidade da época, a Yamaha Ténéré 600. Mandei uma oferta de um sinal e assumiria o talão (cheio) de prestações do consórcio Remaza, para minha surpresa ele aceitou.
Eu demorei um pouco para “cair na real” que tinha comprado uma moto. Até então, por quase doze anos, só andava em motos emprestadas ou na garupa de amigos. Eu realmente não estava acreditando…
Tudo foi combinado em um final de tarde durante uma velejada no canal de São Sebastião. No dia seguinte retornamos de Ilha Bela (SP) lá pelas onze horas da noite. Passei em casa, “quebrei o cofrinho” e juntei a grana do sinal – não lembro bem quanto foi mas acho que uns R$ 3.000 no dinheiro de hoje. Fomos para a casa dele pegar a MINHA motocicleta.
Me belisca!!!
Claro que ele teve que ligar a moto, eu não conseguia (lembre-se que era uma XLX 350) e fui para a casa dos meus pais, ali pertinho. Guardei a moto em um quartinho nos fundos e simplesmente não conseguia dormir. Não acreditava que tinha comprado minha primeira moto, mesmo ela estando ali na minha frente.
Já passava de uma hora da madrugada, todos já estavam dormindo na casa dos meus pais e eu ali, de olho arregalado, querendo andar de moto. Até fui para a cama, mas levantei por duas vezes para ver a moto novamente. No dia seguinte acordei super cedo e fui trabalhar sem ir ver a moto, simplesmente achei que tinha sonhado com toda a situação. Sério!
Horas depois a empregada da casa dos meus pais me liga no trabalho dizendo que tinha uma moto atrapalhando no quartinho e eu tinha que tirar de lá. Bom, aí eu me certifiquei que não era sonho e a ficha caiu. A partir dessa data tudo mudou.
Aos 23 anos minha rotina era trabalhar e no final de semana descer para Ilha Bela velejar, adorava isso. Nem tinha carta de moto, mas pilotar a XLX era muito fácil. Claro que o lance de ligar me confundia no começo, pois estava acostumado com as motos 2T mas, depois que peguei a “manha” ficou tranquilo. Me diverti demais com aquela motocicleta.
Depois de quase 30 anos ainda lembro daquela que foi minha primeira moto. Se pudesse eu ainda estaria com ela na minha garagem. Para dizer a verdade me arrependi muito por ter vendido. Era moto para guardar pela vida inteira, seja na garagem ou mesmo na sala de casa.
Tudo mudou
Em quase trinta anos, desde que comprei minha primeira moto, vi muita coisa mudar. Hoje temos muito mais opções de modelos, recursos eletrônicos, segurança e equipamentos. Mas o que mudou muito foi o trânsito, o tráfego está mais intenso. A motocicleta deixou de ser um veículo de lazer , para muita gente é um meio de transporte e de sustento das famílias.
Mesmo assim, ainda falta muita educação para motoristas e motociclistas também. Penso que devemos chegar a um acordo, estamos andando em um dos veículos mais sensacionais que existe. Porém devemos assumir o controle da situação e mudar as estatísticas dos acidentes de motos.
No off-road o que valia era a amizade e não a motocicleta |
Falando em diversão, lembro que até 1994 meu horizonte motociclístico era 100% off-road. O clima era bem competitivo e se destacava quem sabia pilotar melhor (ou caia menos) e, nas competições, quem chegava na frente. Ainda assim, todos eram muito unidos e as diferenças eram menores.
Em 1995 comecei a viajar pelas estradas. Com minha minha Yamaha Super Ténéré 750 rodava pelo Brasil e, depois com outras motos, pela América do Sul foi possível perceber o que algo mudou entre os motociclistas. Percebi que o importante era a moto e não o motociclista. As pessoas começavam a dar mais valor a marca, cilindrada, potência, peso, com ou sem ABS, cardão ou corrente. Sinto saudade da comunidade off-road aonde a amizade era muito mais importante do que a moto.
Passeio revelador
Foi interessante lembrar de tudo isso em apenas 30 minutos. Em um breve passeio com uma Honda XLX 350, ano 1988, foi capaz de me levar a estra reflexão. Foi um passeio nostálgico em que passou um filme na minha cabeça. Começou no momento de ligar a moto (que eu não consegui e pedi ajuda ao Mestre Diego).
No restante senti a mesma sensação daqueles tempos quando levei minha XLX para Campos do Jordão (SP) para fazer minha primeira trilha. Nunca vou esquecer!
Um passeio depois de 30 anos para matar a saudade levou a uma grande reflexão sobre o motociclismo atual |
Hoje, após fazer as fotos e retornar para a casa do Diego, lembrei de como eramos felizes com coisas mais simples. Fazíamos tudo sem o uso d tecnologia embarcada e suas siglas como ABS, DBS, ASC, ESA entre outras.
Não sou contra a modernidade nem os benefícios que elas nos proporciona. Mas sinto que, antes dela, sabíamos pilotar muito pois tínhamos que analisar a velocidade e o tipo de piso antes de acionar os freios, controlar o acelerador e sentir a moto como um todo. A motocicleta era a extensão do nosso corpo.
Jornalista Especializado em veículos e mobilidade. Editou a revista Duas Rodas, foi colunista do portal UOL e criou publicações como Revista Ordem de Serviço e edita atualmente a revista MotoEscola.
ahhh saudosismo…. eramos bem mais felizes antigamente que hoje em dia…..
ahhh saudosismo…. eramos bem mais felizes antigamente que hoje em dia…..
ahhh saudosismo…. eramos bem mais felizes antigamente que hoje em dia…..
Muito legal a história. Parabéns. Minha CB repousa na garagem, mas ando sempre, e quando posso, uma viagenzinha pra lá e pra cá. Dez!
Muito legal a história. Parabéns. Minha CB repousa na garagem, mas ando sempre, e quando posso, uma viagenzinha pra lá e pra cá. Dez!
Muito legal a história. Parabéns. Minha CB repousa na garagem, mas ando sempre, e quando posso, uma viagenzinha pra lá e pra cá. Dez!
Entendo muito bem o sentimento. Ainda tenho a minha XL 250R 1982. Pena que parada! Mas não desisto e vou fazê-la funcionar novamente e me divertir andando com ela. Como fiz com ela nos últimos quinze anos!
Entendo muito bem o sentimento. Ainda tenho a minha XL 250R 1982. Pena que parada! Mas não desisto e vou fazê-la funcionar novamente e me divertir andando com ela. Como fiz com ela nos últimos quinze anos!
Entendo muito bem o sentimento. Ainda tenho a minha XL 250R 1982. Pena que parada! Mas não desisto e vou fazê-la funcionar novamente e me divertir andando com ela. Como fiz com ela nos últimos quinze anos!
Parabéns, gostaria de ter pilotado uma zero km como você. A 15 anos possuo uma xlx 350 1990.
Parabéns, gostaria de ter pilotado uma zero km como você. A 15 anos possuo uma xlx 350 1990.