Preço das Peças – A inabalável lei da oferta e procura
Em tempos de pandemia os preços subiram, das motos, dos automóveis antigos, das peças então nem se fale. Pro novato que entrou agora e vai comprar uma peça qualquer, não tem referência, tudo bem. Mas a gente, que vem acompanhando há anos o mercado de motos e peças antigas, tomou um choque.
Com frequência vejo em redes sociais, vendedores e compradores se digladiando. De um lado, vendedores reclamando de clientes que entram no anúncio da peça, fazem perguntas, negociam preços e… Somem sem dar satisfação. Saindo assim, “à francesa” mesmo.
De outro lado, compradores reclamando – até em tom de ofensa – do preço das peças.
As vezes não me controlo em ler e rir, me meto na conversa. Antes de mais nada, quero deixar claro que Motos Clássicas 80 não comercializa peças, nem motocicletas. Somos compradores, assim como a grande parte de nossos leitores e seguidores.
A lei da oferta e da procura
Essa lei, diga-se de passagem não fui eu que inventei, quando cheguei ao planeta ela já existia – e funcionava. Simples assim, quanto mais gente procurando tal item e quanto menos deste item houver disponível no planeta – maior o valor.
Mas é só uma chapinha de aço
Pode ser uma chapinha de aço, ou um parafuso especial, ou um plástico que pesa 30 gramas – não importa aí o quanto custava na época, ou o quanto custou pra fabricar, se a peça é rara e tem procura, seu valor vai subindo.
Grande estoque
Há muitos anos eu me dedico a comprar peças para as minhas motos, muitos anos mesmo. Pneus Pirelli MT 40, devo ter mais de uma dezena.
Peças catalogadas, originais, das motos de meu acervo, são mais de 900 itens diferentes, aproximadamente 4.000 peças. Um estoque feito aos poucos, com capricho e com cuidado, sem grandes investimentos pontuais, apenas, religiosamente, sempre que podia comprava alguns itens.
Sabendo é claro o que comprar, priorizando itens de desgaste, de acabamento, ponteiras, plásticos, carenagens, borrachas, sanfonas, peças de carburador, lentes etc. Na época em que eu buscava e comprava peças de XL 250R por exemplo, a grande maioria dos que estão lendo agora a consideravam uma “moto velha” – e as peças há mais de 20 anos, eram abundantes e baratas.
Agora, sigo monitorando peças desse modelo citado no exemplo, mas raramente compro alguma coisa, por outro lado, peças de modelos mais novos, ainda abundantes e que muitos consideram “moto velha” me despertam interesse e começam a ocupar as prateleiras aos poucos.
Praticando a empatia ou a matemática
Não é todo mundo que gosta de se colocar no lugar do outro, não é mesmo? Somos treinados, há anos, a nos agrupar com os iguais e afastar os diferentes, por mais que a grande mídia atualmente divulgue na propaganda “ser a favor da diversidade”, nas entrelinhas o que percebemos é que estão sempre colocando uns contra os outros. E é nessa hora, alimentados por esse combustível oculto, que vendedores e compradores, que estão em lados opostos, começam a se digladiar.
Mesmo que não pratiquemos a empatia, a matemática não pode ser ignorada, não é mesmo? Pense em uma peça, que em 1995 (olha que não to indo tão lá atrás) por exemplo custava na concessionária R$ 20,00 e hoje “o vendedor explorador” está vendendo por R$ 200,00 – um absurdo não é mesmo?
Mas não é!!! Veja que, apenas correção monetária desses últimos 26 anos, já faz a peça ultrapassar os R$ 200,00 reais.
Então, imaginando que alguém a teria comprado em 1995 e estivesse com ela guardada, em um galpão (que custa $$), com serviço mínimo de limpeza (também custa $$), pagando IPTU, seguro, água, energia elétrica etc – e esse empresário estivesse praticando tal preço hoje, ele estaria simplesmente perdendo dinheiro e pagando para trabalhar, se é que ainda estaria ali.
Se ele tivesse simplesmente colocado na “poupança” e largado lá, teria R$ 238, 24
Mas não! Pode ter certeza que são pessoas que criaram um grande networking, conseguem através de uma mensagem de WhatsApp encontrar a peça que você precisa em qualquer canto do Brasil, e, bem, partindo da premissa que somos adultos e não acreditamos que “lucro é pecado”, esses caras sim, buscam ter margem de lucro em seus trabalhos! Assim como eu e como você também! É claro que tudo tem limites, eu mesmo vi outro dia um vendedor vendendo 1 unidade do Pirelli MT 40 por R$ 2.500,00. Um absurdo! Pois a gente sabe, que quando aparece e ele aparece.. é vendido por uma fração deste valor.
Agora, por outro lado
Eu fico muito chateado quando vejo os vendedores reclamando dos clientes. Que o cliente é folgado, que o cliente pediu desconto e sumiu, que o cliente blá, que o cliente blá-blá-blá. Poxa! Desagradável não é? Um depende do outro.
Ai vai uma historinha, de autoria desconhecida, mas com uma pitada de sabedoria:
O cão e o prego
Um rapaz estava dirigindo há horas em um deserto. De repente, ele se depara com um posto de gasolina bem simples, com uma bomba de gasolina e apenas um senhor de aproximadamente uns 70 anos de idade, sentado em uma cadeira de balanço antiga e ao seu lado estava um cachorro.
O rapaz para o carro e diz:
– Senhor, por favor, encha o tanque para mim.
O senhor levantou e começou a encher o tanque.
Enquanto fazia isso, eis que o jovem motorista avistava a reação do cachorro que chorava e parava, chorava e parava.
O motorista agoniado com o fato, pergunta ao senhor:
– Esse cachorro é do senhor?
– Sim – respondeu o senhor.
– Então me responda por que ele chora e para, chora e para?
O senhor responde:
– É porque ele está sentado em um prego.
– Então por ele não levanta e sai dali? – indaga o rapaz.
– É porque o prego não o machucou o suficiente para ele tomar a iniciativa de levantar – responde o senhor.
Entonces…
Da mesma forma que eu costumo dizer pros compradores que reclamam de preço – “se você acha um ótimo negócio, porque você não sai por ai, pega seu dinheiro, compra peças, fica esperando o cliente aparecer e os atende com preços bem camaradas?”
Digo para os vendedores – “se seu negócio é ruim pois você tem que lidar com clientes insuportáveis durante sua jornada, poxa, talvez seja hora de procurar outro tipo de atividade pra viver, com um público mais alinhado com suas expectativas”.
Para tal, basta “sair de cima do prego” e parar de reclamar.
#ficaadica
Então, se tem uma dica a ser dada: procure comprar motos e peças antes que elas virem objeto de desejo de muita gente. Olhe para as motos de 15 anos atrás, qual delas você vai desejar daqui a 10 anos… compre com calma, faça um enxoval de peças dela. Como os vinhos, elas envelhecerão bem, e você ficará feliz com a valorização. Você estará seguindo outra lei inabalável do capitalismo: compre na baixa, venda na alta.
Aos 51 anos, Diego completa 38 intensos anos de motociclismo! Colecionador detalhista e aficionado por motos clássicas, principalmente as dos anos 1980. Ultrapassando a marca do 1.000.000 de km rodados – Seja como piloto de testes da revista Duas Rodas, aventurando-se pelo mundo em viagens épicas e solitárias em motos super-esportivas ou quebrando recordes de distancia e resistência sobre a motocicleta onde conquistou 18 certificados internacionais “IronButt”.
É, tem gente enchendo os bolsos de dinheiro, vendendo muita quantidade, outros, tentando vender pelo que acha que vale. Ótima matéria.
Concordo e discordo Diego….
Hoje vivemos um período de antigoportunismo, não sei se porque virou moda, ou porque, análogo às artes, virou uma boa forma de “lavagem”.
Como o exemplo que você citou do pneu, tem coisas que beiram o absurdo a ponto de desanimar.
Eu vou na vertente de que, se na época da moto era possível usar peça de substituição “paralela”, então usá-las agora não significa perder a originalidade. Prefiro colocar uma peça nova paralela (se houver) do que pagar um absurdo numa lente de pisca pra falar que era original de época. Sim, me julgue… RS
Abraços
Ótima matéria e opinião.
Há um ano tenho uma XLX 250 R Ano 1990 e estou pagando preço alto por peças e componentes.
Agora entendi um pouco melhor como funciona esse negócio de moto antiga.
Em 88 tive uma XLX 250 R Ano 1988 e em 2001 tive uma XLX 350 Ano 1991 daí que, realmente, era fácil e barato comprar peças.