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Vou contar aqui uma história simples, mas real, que retrata o que rola, desde a primeira olhada em uma moto anunciada, o primeiro contato com o vendedor, ouvir a história da moto (essa é a parte que mais gosto), ver cuidadosamente as fotos ampliadas, os detalhes, fazer a proposta, discutir valores, até que chega o dia de finalmente ir ver a motoca – se realmente ela é tudo que foi prometido, e fechar o negócio, trazendo o troféu pra casa.
O caso de hoje é de uma Vespa PX200 1987, que encontrei na internet anunciada da seguinte forma:
Vendo Vespa PX200cc, ano e placa 1987, único dono, 100% original, apenas 4.400km, docs OK e em meu nome.
A primeira foto do anúncio já mostrava o velocímetro marcando os 4.406 km. Interessante !
Conversando com o vendedor, ainda num primeiro contato via e-mail, ele afirma o quão nova e original é a vespa, explicando de quem era, como foi tratada, como chegou nas mãos dele, o que foi feito nela, como se explica tão baixa km, enfim, o que eu costumo chamar de “pedigree” da moto, transcrito abaixo:
Comprei de um engenheiro civil que é meu cliente, ele tirou zero, deixou-a em um condomínio aqui do interior,mandou somente 4.000 km, nunca havia emplacado, apenas feito o documento que ainda era placa amarela, com isso consegui fazer o documento em meu nome e a placa cinza com o ano dela 1987, hoje está com 4.450 km, essa Vespa nunca foi mexida, tudo é original, pintura, pneus, motor, parte elétrica etc, tudo conforme saiu da concessionária, só fiz uma limpeza de carburador, óleo do câmbio, bateria e uma encerada, o que não funciona é o marcador de combustível, creio que precisa ser substituído. Estive com ela faz 1 semana no encontro de vespas e lambrettas antigas na cidade de Americana, os conhecedores deram nota 10. Ela tem o manual original, jogo de chaves original, esta 100%original, o estepe nunca foi usado.
Poxa, algumas palavras mágicas foram faladas aí:
- manual original
- jogo de chaves (ferramentas)
- estepe nunca foi usado
- nunca foi mexida
- pintura original
- 4.000 km originais
- não havia sido emplacada até então!
E mandou mais algumas fotos:
Será que tudo que foi falado condiz com a realidade ?
Ampliando as fotos, vê-se alguns pequenos pontos de ferrugem na roda dianteira e no suporte do retrovisor, o que é, apesar de parecer estranha minha afirmação, um bom sinal. É sinal que a moto esta como “veio ao mundo”, não foi retocada para vender… Moto antiga muito perfeitinha, existe sem duvida, mas é muito raro, desconfie. Sempre alguma marca de uso ela vai ter, ou do desuso até (pequenos pontos de ferrugem por exemplo).
Outros pontos interessantes de se olhar são os pneus, a coisa é bem simples: se a moto tem 4.400 km rodados, os pneus tem que ser os originais de fábrica, o estepe então nem se fala. Mas como saber se os pneus são originais DE FÁBRICA ? E não apenas mesmo modelo e marca dos originais ?
Primeiramente, temos que saber qual a marca e modelo dos pneus que eram originais naquela época naquele veiculo (no caso, Pirelli SC30). Depois ao ver a moto, observar em cada um dos pneus, em suas inscrições na lateral, uma das informações que constam ali são a semana e o ano de fabricação do pneu (inscrição DOT). Pronto, aí ficou fácil, se estamos falando de uma vespa (isso vale pra motos e carros também) 1987, os pneus devem ser de 1986 ou 1987. Se a vespa estiver calçada com pneus de 1988 em diante, esses foram trocados em algum momento e a originalidade prometida não esta sendo cumprida.
O vendedor disse ser colecionador de motocicletas antigas e afirma ter mais de 20 motos, o que transmite uma boa dose de confiabilidade, afinal de contas não estamos falando com um aventureiro que não sabe o que fala e quer apenas “vender bem” o veículo antigo,pra quem qualquer moto “velha” pode ser anunciada como “de coleção” para cobrar-se mais caro! (Acreditem, ta cheio disso por aí…)
Fomos aprofundando a conversa, falando de valores (que não vem ao caso neste post), formas de pagamento, proposta vai, proposta vem, um ou outro telefonema, e com isso um mês se passou, até que entramos em um acordo financeiro e marquei um sábado cedo para ir vê-la, e caso estivesse exatamente como o vendedor havia relatado, caso toda história parecesse real e fizesse sentido, restava apenas fazer o cheque e trazê-la pra casa.
Bem, talvez 50% das vezes que vamos ver uma “raridade” nos decepcionamos, pois o que é raridade pra um não é pra outro, sem falar nos oportunistas que falamos ha pouco, anunciam como “raridade”, “impecável”, “para colecionador”, mostram fotos até legais (fotos escondem muita coisa !) e quando chegamos pra ver, descobrimos que perdemos a viagem, pois a moto é repintada (sem qualidade), riscada, amassada, não tem km condizente com a historia…etc etc e tal..
Mas, amigos, para alegria, esse não foi o caso. Jorge é realmente um colecionador de motocicletas, e poucos minutos após chegar em sua garagem e conhece-lo, mesmo antes de ver a vespa, sabia que a viagem não seria perdida, mesmo que a vespa não me agradasse, vi que estava conversando com um real colecionador de motocicletas, um cara sério e muitíssimo gente boa. Sendo assim, com vespa ou sem vespa, um amigo eu ja tinha ganhado.
A coleção do Jorge é digna de nota! coisa de gente grande! ele me pediu para não publicar as fotos que tirei, por segurança, e assim será feito. Mas podem acreditar, o cara é sério e sabe o que é uma coleção de motos.
A vespa era simplesmente tudo que ele tinha me falado, absolutamente original, “mint” como dizem… com marcas dos 28 anos de vida sim, um pequeno ralado no paralama dianteiro, um risquinho no espelho, alguns pequenos pontos de ferrugem na roda dianteira. A moto nunca recebeu uma pincelada de tinta depois que saiu da fabrica ! Isso encanta.
Os pneus eram mesmo de fábrica, ressecados inclusive !
Pneus da semana 31 do ano de 1986 (os últimos 3 números da sequência DOT “316”)
Manual, Ferramentas, documentos de compra e venda? estavam todos lá !!!
Só restava uma coisa a ser feita… assinar o cheque e carregar a moto e voltar pra casa com ela…
Um polimento ela está pedindo, fora isso arrumar o indicador de combustível que não está funcionando, um pequeno furo no banco e em breve sai um post com a Vespinha !!! Ali vamos falar dos modelos disponíveis, lançamento, encerramento da produção, do test drive com ela e etc.. aguardem !
Aos 51 anos, Diego completa 38 intensos anos de motociclismo! Colecionador detalhista e aficionado por motos clássicas, principalmente as dos anos 1980. Ultrapassando a marca do 1.000.000 de km rodados – Seja como piloto de testes da revista Duas Rodas, aventurando-se pelo mundo em viagens épicas e solitárias em motos super-esportivas ou quebrando recordes de distancia e resistência sobre a motocicleta onde conquistou 18 certificados internacionais “IronButt”.
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Realmente foi assim que aconteceu, parabéns pela história verídica, sua persistência é digna de um caçador de relíquias, tenho absoluta certeza que sua coleção vai aumentar sempre com peças de altíssimo padrão. Abs: Rodamotor
Realmente foi assim que aconteceu, parabéns pela história verídica, sua persistência é digna de um caçador de relíquias, tenho absoluta certeza que sua coleção vai aumentar sempre com peças de altíssimo padrão. Abs: Rodamotor
Realmente, parabéns Diego. Coisa rara de se encontrar.
Realmente foi assim que aconteceu, parabéns pela história verídica, sua persistência é digna de um caçador de relíquias, tenho absoluta certeza que sua coleção vai aumentar sempre com peças de altíssimo padrão. Abs: Rodamotor
Realmente foi assim que aconteceu, parabéns pela história verídica, sua persistência é digna de um caçador de relíquias, tenho absoluta certeza que sua coleção vai aumentar sempre com peças de altíssimo padrão. Abs: Rodamotor