E nasce uma moto…
Com a ajuda do jornalista e colaborador do Motos Clássicas 80, Cicero Lima, conseguimos autorização da Honda para visitar as suas instalações. Óbvio que eu não desperdicei a chance de conhecer a fábrica e me mandei pra lá também. Compramos as passagens, reservamos o hotel e ansiosos embarcamos pra Manaus.
Sabíamos que seria uma viagem legal, afinal, nosso destino era a maior “maternidade” de motos do Brasil e uma das maiores do mundo! Mas não imaginávamos que seriamos tão bem tratados, fomos surpreendidos no final da visita com um agradável passeio de barco e conhecemos o famoso Encontro das Águas.
E nasce uma moto!
Gostamos de personificar as nossas motos, são objetos sem dúvida, mas ao mesmo tempo são grandes companheiras, fazem parte de nossas vidas e nos acompanham por muitos anos, as vezes até mais do que nossos familiares. Assim acabamos a elas dando nomes ou apelidos carinhosos. Por isso o título: “nasce” uma moto. Pra nós, apaixonados pelas motos, visitar uma fábrica é incrível, e é justamente essa historia que quero contar aos amigos hoje.
Diego Rosa, Cícero Lima, Bettina Theisinger e Victor Gellert – conhecendo a fábrica da Honda. |
A viagem pra Manaus é longa e, nas quase quatro horas de voo, dá prá imaginar o longo trajeto da moto, desde a fábrica até os grandes mercados do Sudeste |
As quase quatro horas de voo nos fazem lembrar quão grande é esse país e a coragem daqueles japoneses em instalar, na década de 1970, uma fábrica no Brasil. A distância em linha reta de São Paulo a Manaus é a mesma distância que separa São Paulo e Santigo, no Chile! Cerca de 2.700 km. Se do Chile somos separados pela Argentina e pela maior cordilheira do mundo – de Manaus somos separados pela maior floresta tropical do planeta, pela ausência total de rodovias (transitáveis), e um rio que não fica pra trás não, é monumental!
É uma região de superlativos! E a Honda, em Manaus, não deixou por menos – esta é a maior fábrica de motos da Honda no mundo!!! Com capacidade instalada para produzir 1.800.000 motos anuais, 6.000 colaboradores diretos atualmente (já foram cerca de 15.000 na década passada), é uma fábrica “sui generis”, pois é absolutamente verticalizada. Bancos, quadros, engrenagens, peças internas do motor, itens de fundição, guidões, tanques, tudo é fabricado lá dentro. Apenas componentes eletrônicos, baterias, velas, lampadas, pneus e itens de menor importância vem de fora. Bem diferente das “montadoras” ao redor do mundo, que, em geral, têm apenas as últimas etapas, a linha de montagem, onde componentes são agregados e a motocicleta montada.
A cidade dos anjos
Diego ouvindo as instruções do eng. Márcio Alexandre Gualti seguido pelo amigo e também editor do Motos Clássicas 80 – Victor Gellert |
Se você já entrou na oficina de uma das concessionarias da marca, deve ter se deparado com mecânicos trajando branco da cabeça aos pés, certamente notou a limpeza impar e uma organização perfeita naquele espaço. Pois então, saiba que lá na fábrica todos usam branco também, parece que você está literalmente no céu, cercado de anjos, em um cenário impecavelmente limpo e brilhante. Até mesmo os diretores trajam a mesma vestimenta… Poderia ser um laboratório farmacêutico… e talvez, em sua essência seja mesmo, pois o produto que de lá sai é o mais potente anti-depressivo: As motos!
Respirando Honda
Logo que entrei na fabrica, me arrepiei, lembrando que muitas das minhas motos vieram de lá… e as suas também viu! Mesmo que importadas, todas motos passam por Manaus, onde são tropicalizadas, montadas ainda que parcialmente, passam por testes, certificações e dai então são distribuídas pelo imenso Brasil.
Foi ai que começou a nossa viagem, já “respirando Honda”, acompanhado dos amigos Cícero Lima, Victor Gellert e Bettina Theisinger, fomos recebidos pelo Vice Presidente Industrial da companhia, Julio Koga e depois, ciceroneados por uma equipe com tradutor, fotografo além do gerente de relações institucionais Hélio Shimpei Matsuzawa e o engenheiro Márcio Alexandre Gualti – fomos entender como nasce uma motocicleta!
Amigos, eu confesso: me senti um pop star! Cercado de motos, caminhando pelos corredores da imensa unidade, flash pra tudo que é lado registrando nossa visita enquanto eram explicados detalhes do “nascimento das motos”.
Com muita atenção, entendiamos cada passo da montagem de uma motocicleta! |
A fábrica
Primeiro fomos a fundição, com equipamentos moderníssimos. Eles estavam fundindo as camisas dos cilindros, em uma liga de aço especial, onde fornos com temperaturas acima de 1.500 graus eram capazes de transformar diversas ligas de aço em um componente que raramente vemos, mas faz parte do coração da moto. Caro leitor, ver o metal em estado liquido e incandescente transformar-se em componentes é um show à parte!
Depois fomos a um dos centros de usinagem, onde as rebarbas são retiradas, faces são niveladas e todo trabalho da fundição ganha acabamento – Equipamentos ainda mais modernos, robotizados, linhas de produção com cerca de 40 metros – sem contato manual e nenhuma intervenção dos operadores -fazem uma série programada de usinagens nas peças.
Depois, uma surpresa pra mim, pois achava que as engrenagens eram usinadas… fomos ao centro de sinterização – pois é, não são apenas as pastilhas de freio que são sinterizadas, neste processo, diversos metais em forma solida (pó), são prensados no formato desejado (engrenagens por exemplo), e depois submetidos a alta temperatura para endurecer (sem fundir). Feito isso, em alguns casos, há que se temperar alguma parte (dentes da engrenagem por exemplo), então é aplicada altíssima temperatura em uma região da peça e logo em seguida resfriada com óleo. Essa parte que sofreu a tempera é muito mais resistente do que o restante. E, comparando com a usinagem tradicional, as peças sinterizadas são muito mais leves.
Depois disso fomos a linha de montagem em si, sem duvida a parte mais espetacular de todo o processo, pois é onde vemos diversas peças se transformando em uma motocicleta. É a parte que tem a tradicional esteira, onde a moto (no caso dos carros também) vai se deslocando, e cada colaborador vai agregando alguma peça no conjunto. São diversas linhas paralelas, cada uma responsável por montar um grupo de motos similares. As peças chegam a linha por todos os lados e de todas as formas, até mesmo por “via aérea”, algumas partes são transportadas pelo teto da unidade e entregues por esteiras direto no ponto de consumo!
Poucos metros a frente, e as motos estão prontas e funcionando!
Testes e mais testes!
Borá despachar pro Brasil todo? Claro que não! A filosofia de qualidade da Honda obriga diversos “check gates” durante o processo, para avaliar e corrigir se necessário a qualidade, e no final da linha de montagem uma checagem completíssima. Todas as motos recebem gasolina, são ligadas pela primeira vez, aceleradas até uma determinada velocidade em um dinamômetro de rolo, aferida a regulagem do farol, aferida a precisão do velocímetro, conferido o funcionamento de toda parte elétrica, luzes, buzina, setas – e depois, são inspecionadas visualmente por colaboradores especializados em busca de riscos, trincas, peças mal instaladas, qualquer detalhe é percebido naquele momento.
A equipe de logística então retira as motos aprovadas e as leva pra embalagem final e embarque para as concessionárias.
O laboratório
Mas não terminou ainda, fomos ao moderno laboratório, onde diversos dinamômetros em funcionamento em salas com proteção acústica funcionam ao mesmo tempo, e ali são realizados testes tais como:
– longa duração – neste teste a moto é “pilotada” por um robô, 24h por dia, recebendo abastecimento continuo de gasolina, e esse robô, em cima do dinamômetro vai variando a velocidade, trocando marchas, freando etc – como se fosse um de nós ali pilotando, a moto para por instantes apenas para trocas de óleo, e nesse ritmo roda cerca de 15.000 km. Onde a engenharia pode avaliar diferentes aspectos e desgastes.
– dinamômetro – ai é um teste mais convencional, apenas para medir a força de um determinado motor, conformando com as especificações originais. Algumas motos, aleatoriamente, são retiradas da linha de montagem para essa inspeção.
Opa!!! o que faz esse colaborador de roupa comum e boné vermelho? Não eram todos de branco com bonés verdes? |
– controle de poluentes – esse, também um dinamômetro, mas com a diferença que os gases emitidos pela moto são coletados e analisados. E depois do teste, a moto vai para uma sala estanque onde gases residuais, como evaporação do tanque de combustível por exemplo, são coletados e analisados.
O colaborador, a pedido dos gerentes, por alguns instantes deu lugar ao visitante! |
Nessa operação, um colaborador “pilota” a moto, seguindo uma tela de computador que o instrui sobre velocidade, marcha engatada, aceleração se fica parado um tempo em ponto morto, um simulador do uso que nós damos às motocicletas. De tanto ver motos até aquele momento, pode imaginar o amigo leitor que as minhas lombrigas estavam ouriçadas… Eu tava doido pra acelerar uma delas. E isso devia estar nítido em minha expressão, pois quando visitávamos esse ultimo dinamômetro, fui convidado a assumir a posição do operador por alguns instantes e “pilotar” a CG 160 que estava sendo testada! Pode parecer meio bobo, mas vou contar, é sensacional pilotar uma maquina que acabou de ser produzida, e em uma situação tão peculiar.
Diego ficou surpreso ao ser convidado a “pilotar” a moto em um dinamômetro dentro da fábrica! |
Almoçamos, sempre na companhia de nossos cicerones, em um dos gigantescos refeitórios dos colaboradores – havia escolha de comida japonesa, comida light, comida caseira, grelhados, feijoada… Eu, dividido entre o yakissoba e a feijoada me senti honrado em almoçar cercado pelos caras que produzem nossas motos, pude ver a expressão de satisfação em estar ali em cada um deles e entender a razão pela qual as motos vêm com tanta energia boa quando chegam em nossas mãos.
As chapas de metal, as ligas de alumínio, os materiais diversos que entram na fabrica, são tratadas com tanta seriedade durante todo o processo e tanto carinho pelos colaboradores, que faz todo sentido receberem nomes quando chegam em nossas mãos.
Aos 51 anos, Diego completa 38 intensos anos de motociclismo! Colecionador detalhista e aficionado por motos clássicas, principalmente as dos anos 1980. Ultrapassando a marca do 1.000.000 de km rodados – Seja como piloto de testes da revista Duas Rodas, aventurando-se pelo mundo em viagens épicas e solitárias em motos super-esportivas ou quebrando recordes de distancia e resistência sobre a motocicleta onde conquistou 18 certificados internacionais “IronButt”.
Mt bacana esta materia, a Honda realmente leva a serio a qualidade de seus produtos, eu
estou elogiando mas sou Yamazeiro desde criancinha !!
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