Uma SUPER Ténéré para quebrar pescoço

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Ao postar a foto de uma Yamaha RD 350 nas redes sociais, pode se preparar: lá vem uma enxurrada de elogios e uma penca de críticas. Se for da 7 Galo, pronto… Mesma coisa!

Aprendi muito nas redes sociais, no fundo ela é como o motociclismo, envolve paixões – aquela coisa do amor e ódio andarem juntos.

É justamente essa paixão que nos motiva!

Mas curiosamente, quando postamos nas redes sociais do @MotosClassicas80 a imagem dessa moto em especial, em uníssono a turma toda elogia.
A XTZ 750 1991 do acervo do Motos Clássicas 80 é uma releitura da moto do Peterhansel
É um termômetro parecido com o de sair com as clássicas pelas ruas, algumas motos fazem torcer pescoços, outras quebram pescoços, mas quando é a Yamaha XTZ 750 SuperTénéré que está na passarela, as seguradoras deviam ficar espertas, pois acidentes podem ocorrer ao seu redor!  Ela parece encantar as multidões.
E encanta mesmo, encantou até a esse colecionador, que é um cara exigente em tudo que se refere a originalidade. Mas, quando viu e andou nessa XTZ, largou mão de frescura e a abraçou rapidamente, uma moto que, de original tem pouco a oferecer.

A personalização

A diversão começa exatamente aí, com a licença poética de colocar na garagem uma criatura assim, vamos descobrir o que ela tem a oferecer.
A pintura da equipe Sonauto Yamaha do Rally Paris Dakar do ano de 1989 foi a escolhida pelo amigo e antigo proprietário da moto para personalizar essa XTZ 750 1991. Curiosamente 1991 foi o ano da primeira vitória do piloto francês Stéphane Peterhansel no Dakar e também esse mesmo ano foi o primeiro da abertura das importações no Brasil. Segundo consta apenas 20 unidades da XTZ 750 entraram naquele ano, uma joia rara.
O kit de adesivos foi importado do Leste Europeu, uma empresa especializada em replicas – no Velho Mundo são bem comuns.  Podia ter sido reproduzido aqui em uma plotter, mas ele fez questão de colocar o “original das replicas”.  – viu só? O original sempre acaba aparecendo em uma coleção.
A escolha não foi à toa. Stephane Peterhansel era nosso ídolo absoluto, meu, do antigo proprietário e falo em seu nome também caro leitor, pois tenho certeza que as fotos de suas inúmeras passagens pelo Paris Dakar ilustraram a sua juventude também.
Stephane Peterhansel moendo as dunas em 1989 com sua YZE 750

A pintura é linda, mas e dai?

A pintura é apenas a pontinha do iceberg, a moto que ilustra a matéria de hoje tem muito mais a oferecer.  O trabalho foi feito com carinho em cada detalhe, na busca de realizar um sonho. Esse sonho sobre duas rodas tirou o meu sono e o sono e de muitos de vocês também. Vamos esmiuçar.

As palavras de um grande mestre

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Sebilosky, o mago das suspensões
  Há mais de 30 anos, O Uruguaio  Luiz Sebilosky cuida de   muitas de minhas motos. É um mecânico das antigas, de   mão  cheia, daqueles que conserta e não troca peças, além   de ser uma pessoa incrível.
   Luiz foi durante uma temporada mecânico do Alexandre   Barros no Mundial 250cc (que seria a Moto2 hoje). Também preparou  motos de pilotos famosos do motocross, entre eles   Jorge  Negretti, por fim tornou-se mais um grande amigo que  a moto me trouxe.
    E “O bom velhinho” como é conhecido, sempre me dizia quando eu era jovem e ia em sua oficina atrás de maior desempenho:  – “Diego, invista em suspensões – o valor aplicado em suspensões vai te fazer andar mais rápido que o mesmo dinheiro gasto em aumento de potência do motor.”
Ele estava absolutamente certo! Pena que naquela época o ronco de um 4×1 e alguns cavalos extras eram sedutores demais pra este jovem.
O ponto alto dessa XTZ é justamente o conjunto de suspensões. O amortecedor traseiro original  descartado e, em seu lugar, entrou um novinho, da marca HyperPro – lendário fabricante dos Países Baixos que, não à toa, equipava muitas máquinas do Paris Dakar naquela época. A dianteira acompanhou, e as molas foram substituídas, a suspensão recalibrada, saíram as originais e entraram as inglesas de marca Wilbers. – receita tipica de competição de alto nível da época.
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Amortecedor HyperPro na traseira
    Como consequência, a  moto fico muito   alta, ganhou vão livre e, mais importante   que isso, ficou eficiente.  Basta um passeio   por estradas ruins de terra em uma   velocidade um pouco mais alta e em pé   sobre as pedaleiras pra achar que seu   sobrenome é Peterhansel também.

    O Motor também…

    Sorte que a preparação não parou nas   suspensões. Os coletores de escapamento   Motad são absolutamente maravilhosos,   praticamente retos em sua extensão,   garantem saída veloz dos gases e um ronco   incrível. Completa o conjunto a ponteira Arrow “Paris Dakar Replica” que é o toque máximo de perfeição. Ela é realmente uma replica das usadas no Paris Dakar.
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Coletor Motad – com o mínimo de curvas possível, desempenho absurdo!
Um acelerador “punho rápido”, kit de carburação “Dynojet stage 2”, filtro de ar K&N, velas de irídio completaram o kit de desempenho do motor.  O ronco desse bicilindrico de 10 válvulas é encantador, assim como seu desempenho, absurdo para uma XTZ. Eu, que nos anos 1990 tive duas XTZ750, posso afirmar: – essa moto era o nosso sonho naqueles tempos.
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A maravilhosa ponteira Arrow Dakar Replica.
Os aros Takasago Excel também foram escolhidos a dedo e o disco de freio traseiro da grife Brembo faz conjunto com os flexíveis que foram substituídos por outros de padrão aerokip.  Os raios de aço inox dão o toque de capricho da montagem.
O assento recebeu uma cobertura central antiderrapante, muito eficiente. Outros detalhes como protetores de mão Acerbis e guidão ProTaper Evo não foram esquecidos.
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A segunda luz de freio, pode parecer um estranho Teletubbies, mas no conjunto fica maravilhosa!
A Luz dupla de freio, tal qual era usada na competição africana, está também em nossa XTZ.
Eu não ousaria chamar essa moto de réplica, pois não é, as motos de competição tinham tanques de 60 litros por exemplo, mas tranquilamente posso a considerar uma Releitura da moto de Peterhansel.

Mas, e andando?

Eu estava ansioso pra chegar nessa parte da conversa!  Quando a XTZ é ligada, da pra imaginar – o papo fica sério.
O som emitido pelo escape é, sem exagero algum, o mais bonito que já ouvi em uma bicilíndrica. Encorpado, rouco, grave em marcha lenta, mas nas altas rotações grita com galhardia! Em ambiente controlado ela ultrapassou com facilidade a marca dos 190 km/h e, se continuasse a torcer o cabo, certamente tinha mais a oferecer. Essa saúde toda demonstra que os 100.000 km exibidos no hodômetro, foram rodados com muito cuidado, pois seu motor ainda “assobia”.
O conforto em marcha é peculiar, entre minhas mãos e o solo apenas o filtro das suspensões profissionais, e é justamente ai que vou me lembrando do amigo Sebilosky enquanto a piloto! Que suspensões!!!
Quando é colocada em trechos de terra, esburacados ou não, encontra seu habitat, e, mais uma vez as suspensões, da um show pra quem gosta de acelerar um pouco mais na terra.  Excelente controle e torque disponível por toda a faixa de rotações (sem o tradicional “buraco” nas acelerações aos 4.500 rpm – tipico do modelo), freios adequados, pneus agressivos. O que mais quero eu dessa vida!?
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Suspensão dianteira retrabalhada com molas Wilbers
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A máquina de torcer pescoços – seus aros Excel receberam pneus de perfil bem off road –
Metzeler Karoo 3 – duram pouco mas divertem muito!
Pois então, quando recebo algum amigo na garagem e me questiona sobre esse “patinho feio” no meio de tantas motos originais, eu, sorrindo explico:  Ele já cresceu, olha bem – é um cisne. 

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6 comentários sobre “Uma SUPER Ténéré para quebrar pescoço

  • Essa configuração que está nessa lenda ,na época já era avançada,a moto visualmente ficou muito linda,só falta o vídeo mostrando essa Arrow falando alto.

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    • o ex proprietário que conseguiu, comprei ja assim a moto!

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  • Fantástica moto , se me permite, vou copiar seu projeto, simplesmente fantástico

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