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Em 1983 fomos pra Manaus, eu com a minha gloriosa XL 250 e meu irmão com sua DT 180 equipada com um tanque de combustível maior de fibra de vidro. Na época o trecho de Cuiabá a Porto Velho tinha uns 1.400 km de estrada de terra intransitável no tempo das chuvas.
No terceiro dia da viagem saímos cedinho de Tangará da Serra, cidadezinha mato-grossense localizada ao norte de Cuiabá com o objetivo de alcançar Vilhena para o pernoite, mas quando escureceu ainda estávamos no coração da Chapada dos Parecis há alguns quilômetros do Rio Juruena. Andar pela “BR” na Chapada durante o dia era mais fácil, a gente evitava as inúmeras trilhas mais batidas dos caminhões que pareciam um novelo de lã rodando por entre a vegetação retorcida daquela região semi desértica.
A noite a coisa ficou difícil. Pela deficiência dos faróis das motos caíamos instintivamente nas trilhas mais visíveis dos facões que os caminhões faziam para evitar o leito original da estrada com seus vários palmos de areão.
Foi quando vimos ao longe uma luz trêmula que parecia ser de um lampião e fomos caminhando lentamente um ao lado do outro em direção à ela cruzando, num sobe e desce interminável, os profundos sulcos das trilhas dos caminhões. Era um acampamento de caminhões que transportavam madeira para o sudeste e estavam estacionados à beira do leito original da estrada, se não me falha a memória a BR 364 conforme os mapas da época. O pessoal preparava um frango a cabidela para o jantar e ao verem os dois faróis surgindo da escuridão julgaram tratar-se de um jipe e qual não foi a surpresa quando viram as duas motos àquela hora da noite viajando por aquelas bandas. Disseram que havia um posto de gasolina mais pra frente às margens do Rio Juruena onde poderíamos pernoitar. Andar na escuridão naquele areão estava realmente muito difícil e após algumas centenas de metros rodados em primeira marcha, com a DT “batendo saia descaradamente”, resolvemos voltar e pedir arrego pros caminhoneiros.
Fomos muito bem recebidos pelos novos amigos que nos convidaram para jantar e ofereceram as boleias dos caminhões para o pernoite.
Na beira da fogueira que esquentava o delicioso frango a cabidela estava sentada uma bela jovem que tomava conta de um dos caminhões que teve uma peça da transmissão quebrada e seu proprietário tinha ido pra Cuiabá pra compra-la. A moça ficou eufórica e excitada com a nossa chegada, nem tanto pela surpresa da inesperada novidade, mas muito provavelmente pelo que imaginava que tivéssemos na bagagem. Imaginem o que dois “motoqueiros” àquela hora da noite e muito perto da fronteira com a Bolívia poderiam estar carregando.
Na conversa animada em volta da fogueira me perguntaram o que eu fazia da vida e quando falei que era médico do Hospital das Clínicas de São Paulo e que trabalhava no pronto socorro e via diariamente os estragos que as drogas faziam na moçada e que por estas e outras razões era visceralmente contrario ao uso das mesmas a moça perdeu a graça, ficou calada e logo depois voltou cabisbaixa para seu caminhão e não a vimos mais nem na despedida no café da manhã do dia seguinte. Pra quem estava presa há mais de uma semana naquela solidão da Chapada dos Parecis deve ter sido uma grande decepção mesmo!!!!
Como médico, Dr Décio não sabe dizer se o motociclismo é uma doença hereditária ou se pegou o vírus ao andar no tanque da moto do pai, uma Triumph 500, aos 7 anos de idade, quando ele e mais três amigos, em 1949 se preparavam pra ir até a Argentina. Foi um dos fundadores da pioneira equipe de enduro “Alice no pais das trilhas”. É um motociclista de mão cheia, daqueles que, ainda hoje em dia, encara o transito de SP em sua BMW GS1250 diariamente, é também um aventureiro de primeira linha, cruzou a transamazônica em algumas ocasiões, em 1983, 1988, foi ao México, USA, Alasca, praticamente toda América do Sul…em cima de uma motocicleta. Liderou alguns passeios de eventura pela Off Rush com as KTM e ha alguns anos organiza os passeios do Caltabiano Moto Club com as BMW
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