QUANDO IDOSOS TEREMOS APENAS BICICLETAS?
Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho é técnico em planejamento e pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais do IPEA. Ele escreveu um excelente artigo sobre a proliferação do transporte privado em detrimento do transporte público coletivo.
Segundo seu estudo essa proliferação que a princípio pode significar aumento do bem estar individual, acaba por trazer sérias consequências para as cidades: intensificação dos congestionamentos urbanos (significando grandes perdas de tempo e produtividade dos cidadãos); maior emissão de poluentes, com destaque para as emissões de CO2, principal elemento de formação do efeito estufa e cuja emissão pelo transporte urbano no Brasil vem crescendo em um ritmo de 3% ao ano segundo dados da ANTP; e finalmente o aumento do número de acidentes de trânsito, que provocam mais de 35.000 mortes por ano, com destaque para os atropelamentos urbanos (cerca de 25% do total) e, mais recentemente, os óbitos em acidentes de motocicleta, que passaram de 700 por ano, em meados da década passada, para mais de 7.000 ao ano atualmente. Mas a questão principal é a seguinte: você deve achar que agora é a vez da bicicleta ou motos como soluções para os nossos problemas. Basta o governo municipal criar faixas exclusivas ou multar os motoristas que não as respeitam e tudo está resolvido. Será? Tenho certeza que não! Para começar um pergunta: Existe alguém idoso na sua família? Se existe, essa pessoa tem condições de se locomover com uma moto ou bicicleta? Mesmo que ela consiga, por quanto tempo ela terá condições de pedalar ou pilotar uma moto com a destreza que esses veículos exigem? Caso você não tenha uma pessoa idosa na sua família, saiba que em breve haverá, mesmo que seja você. Segundo o IBGE a nossa expectativa de vida em média é de 75 anos para os homens, com isso as chances de você ser um idoso é muito grande. Agora vem a questão que mais preocupa: como esses idosos se locomoverão pela cidade? Ou ficarão em casa enquanto os jovens se espremem (e se matam ou são mortos) nas ruas com suas bicicletas ou motos. Enquanto isso as indústrias aumentam seus faturamentos (o que não é crime) e os cofres públicos se enchem com mais dinheiro arrecadado e usado de forma irresponsável (isso é crime). Infelizmente o poder público nunca assume sua responsabilidade que é proporcionar um transporte público digno e com qualidade. E passa a jogar a culpa na falta de educação das pessoas pelo caos que se instalou em nossas cidades, infelizmente o caos urbano não é um problema apenas de grandes capitais como São Paulo ou Rio de Janeiro. Até cidades do interior já vivem esse drama. Um drama criado pela ineficiência dos administradores públicos que se escondem em gabinetes e colocam em guerra motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. Sem perceber nos tornamos vítimas, um dia o transporte individual não será mais útil para nós e perderemos o direito de ir e vir. Resta ter fé que nossas pernas suportem o peso do pedal pois, ao que parece, nos restará apenas a bicicleta como meio de locomoção. Por Cicero Lima
Jornalista Especializado em veículos e mobilidade. Editou a revista Duas Rodas, foi colunista do portal UOL e criou publicações como Revista Ordem de Serviço e edita atualmente a revista MotoEscola.