Rodando com a GTS1000

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Aos pés do “Gigante Adormecido” com seus 1.725m de altitude, uma
parada para curtir a natureza e refletir sobre a tecnologia que estava pilotando

A revista RIDER, em abril de 1993 publicou:
 
“Deixe um homem proclamar um novo principio. O sentimento publico certamente estará do outro lado”  Thomas B. Reed


-Lembre-se dessa moto. Se a Yamaha GTS1000 nÃo for comprovada como a precursora de uma nova era no design de motocicletas, ela representa uma falha de dimensões colossais.Quem será responsável? A mídia, se tem pressa para vender revistas e impressionar os leitores com críticas arrogantes e injustificadas, não consegue testar e explicar com precisão a máquina.


– Nossa, só esse comentário já nos faz refletir…  coragem de publicar isso hein?  Gosto da forma evoluída e principalmente independente com a qual essa mídia trabalha.Bem, feliz mesmo é o Motos Clássicas 80, né?  que pode escrever a vontade da GTS1000 sem carregar a culpa de tê-la feito fracassar – o que de fato aconteceu!  Como nós queremos através da coleção contar a historia do motociclismo, ou parte dela, pouco importa se a Agrale quebrava muito – hoje é desejada nas coleções, não há preocupação se a MZ250 tinha pouca potencia, também é muito desejada!  A estrela da nossa conversa de hoje, a GTS1000 foi sem duvida um fracasso comercial… mas, qual foi a razão de ser aclamada por toda a mídia naquela época?  Passeie conosco, venha entender mais dessa máquina antológica!

 

Back to the 90´s

Imagine-se de volta a 1993, as importações de veículos haviam sido liberadas há pouco, começavam a chegar os grandes carros e motos importadas, mas… até um ano atras, nossos mitos eram Gol GTI – que estreou a injeção eletrônica no Salão do Automóvel de 1988. Lembre-se que, ainda em 1992, vendia-se aqui o Chevrolet Opala que somente em agosto daquele ano foi substituído pelo Omega (modelo 1993) – já injetado também.

ABS?  Conhecíamos em revistas até então, embora na linha Mercedes Bens desde 1984, foi a Volkswagen a pioneira com o ABS no Brasil com o Santana 1991.

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Esse era o cenário no final de 1992

O salão do automóvel de SP de 1992 ferveu!  As importações acabavam de ser abertas, e foi um festival de novidades jamais imaginado…  Mitsubishi Pajero, BMW325i, Honda NSX,  e também Kadett e XR3 conversível…  uma festa!  O mercado estava em ebulição.

– Que papo estranho!  Carros, ABS, injeção eletrônica!?  resmunga o leitor no canto do sofá.

– Callllmaaaaa!  Deu pra se situar?  Das motocicletas você já conhece… sabe que quem reinava aqui eram a CBX750 Indy e a RD350R!

Imagine agora, o quão foi impactante em terras tupiniquins a chegada de uma moto como a Yamaha GTS1000? Não era a rainha da velocidade, do desempenho, da potencia! Mas vinha recheada de tecnologia… com injeção eletrônica, freios ABS, catalisador, motor de 20 válvulas e um incrível sistema de quadro (denominado Omega). Destaque maior para a suspensão dianteira mono braço – e não foi somente aqui, a tecnologia encantou o mundo naquele momento!

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A “sem garfo” radical
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O Futuro!
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Uma maravilha radical!

O Passeio com a GTS

Neste final de semana a GTS 1000 foi convidada para um passeio, a moto, recém integrada a coleção, ainda não passou por uma revisão, o que será feito nos próximos dias.  O amortecedor traseiro está com pouca ação, precisando de uma regulagem ou talvez uma intervenção mais importante. Então nada de abuso nas curvas nesse primeiro contato com a moto, apenas um passeio tranquilo mesmo, levando garupa inclusive. A primeira constatação imediata: ao sair com a moto uma rodinha se forma em volta, no trânsito, pescoços são torcidos, a moto chama muita, mas muita mesmo, atenção por onde passa!  E olha que to acostumado a andar com motos pouco convencionais pelas ruas…

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Curtindo o lindo dia de outono ” a bordo ” da GTS1000

A região ao redor da represa Jaguari – Jacareí ( a primeira e a maior represa do sistema cantareira ) é espetacular, com estradas agradáveis e curvas generosas, o visual “da toscana” encanta, muito embora o asfalto já teve seus melhores dias.

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Represa Jaguari-Jacarei – a maior e de maior altitude do sistema cantareira.

Se 100cv em 1993 era a potência de muitos carros considerados fortes (um Gol GTI por exemplo “esbanjava” 120cv) , hoje esses números não nos fazem suspirar.  Mas é suficiente.  O motor de conceito gênesis (que na época equipava a FZR 1000 e mais tarde veio a ser usado nas primeiras Yamaha YZF-R1 – claro modificado para gerar mais potencia) é honesto, empurra bem o conjunto, mas para os padrões de hoje em dia, merece cuidado pois passaria vergonha ao lado de uma Hornet 2005…

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O inovador quadro “omega” e a incrível suspensão dianteira.

Já quando o assunto é ciclística – ela dá um show!!!  Trata-se de uma sport touring, e como tal oferece uma posição de pilotagem muito agradável, com guidão e pedaleiras oferecendo conforto, para-brisas alto, porta objetos (enorme e fechado a chave) no tanque.

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Porta luvas a frente e tampa do tanque de combustível mais pra trás.  Visual muito limpo, linhas harmônicas.

A obsessão por carenar a moto foi tão grande,  praticamente nenhum componente mecanico aparece, e repare que até o bocal de combustível fica protegido por uma tampa, como na industria automobilística. As semelhanças não param por aí, pois a tampa também segue o padrão dos automóveis e a entrada de gasolina é do mesmo sistema, com um afunilamento pronunciado e uma portinhola no fundo, tipo guilhotina! Tudo muito caprichado, em aço inox.  Imagino que na época, tenha sido um problema para quem a adquiriu no País, pois os bicos  das bombas nacionais eram todas mais grossas, mais tarde é que aderiram ao padrão adotado em outros países.

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uma vez aberta a tampa de plastico, descobre-se que há uma bonita tampa de inox no tanque.
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e quando se retira essa tampa, veja o sistema:  igualzinho dos automóveis…
Difícil falar dessa motocicleta e não a comparar com automóveis viu!  Basta olhar o painel, nitidamente inspirado na indústria automobilística daquele tempo. Velocímetro, conta-giros, marcador de combustível e 9 luzes espia (neutro, 2 pra setas, reserva combustível, farol alto, injeção eletrônica, temperatura do radiador, ABS  e pressão do óleo) compõe o imponente mostrador, com escala até 260 km/h, mas declarados 230 km/h de velocidade final real.
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Painel nitidamente inspirado na industria automobilística! – relógio digital, 9 luzes espia, dois odômetros parciais… um luxo!

Por falar em velocímetro, em uma esticada, ainda na rodovia D. Pedro, foi possível superar os 200 km/h com facilidade, o cambio muito bem escalonado tem suficientes 5 marchas, sendo a quinta bem longa.

Essa unidade veio com as malas laterais opcionais, mas pra esse passeio resolvi deixá-las na garagem.  Fica menos “sedan”!!!  Embora volumosas, têm um sistema de fixação muito inteligente e prático!

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Freios com ventilação
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ventilação característica da
industria automobilística

Na região do entorno da represa, com suas curvas, foi possível avaliar com mais atenção.  A entrada de curva é um pouco pesada, possivelmente por conta do pneu dianteiro de medidas exageradas (130/60 R17), mas depois que inclina, fica nos trilhos, lembrando que é uma Sport Touring e não oferece a agilidade de uma  CBR 900RR com aro 16…  Nas frenagens realmente não há grande afundamento da suspensão dianteira, e apesar de ter apenas 1 disco na dianteira (com o mono braço fica impossível colocar dois discos) a moto freia muito!  Graças ao tamanho generoso do disco dianteiro, e da pinça de 6 pistões contrapostos colocada estrategicamente no topo do disco, colaborando para reduzir o mergulho em frenagens mais fortes. Sistema que agrada muito!
Mais de automóveis?  Pois então, os discos traseiro e dianteiro, tem o mesmo sistema de ventilação adotado em automóveis…

Mas e ai?

Bem, se é tão bacana assim, tão tecnológica, foi apontada como moto do futuro… cadê ela?  Por que desapareceu tão rapidamente? (ficou em produção entre 1993 e  1998, com pouquíssimas unidades produzidas) – bem, hoje, passados 26 anos de seu lançamento, não é difícil de explicar: Ela custava “os olhos da cara”!

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As tomadas de curva são um pouco pesadas, mas a moto segue em um trilho depois de inclinada!
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O perfeito encaixe das pernas e a preocupação aerodinâmica.
Aqui no Brasil por exemplo, onde uma Kawasaki Ninja 1100 e uma Suzuki GSXR 1100W eram vendidas na casa dos 20 a 22.000 dólares (e eram as motos dos sonhos! com desempenho incrível) ,  a GTS1000 figurava na faixa dos 30.000 dólares e  as poucas unidades vieram apenas através de importadores independentes!!!

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6 comentários sobre “Rodando com a GTS1000

  • Linda matéria, lindas fotos e indescritível motocicleta. Depois de a YMB suspender sua importação, algumas ainda vieram via Chile.

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  • Linda matéria, lindas fotos e indescritível motocicleta. Depois de a YMB suspender sua importação, algumas ainda vieram via Chile.

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  • Linda matéria, lindas fotos e indescritível motocicleta. Depois de a YMB suspender sua importação, algumas ainda vieram via Chile.

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