Yamaha RD350LC – a moto com testosterona!

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As motos saíram na frente!

A enorme ressaca causada pelo fechamento das importações de veículos entre 1976 e 1991 foi sarando aos poucos, em doses homeopáticas os brasileiros foram vendo a linha de motos dos dois grandes fabricantes, Honda e Yamaha, crescer.  Tal fenômeno não foi diferente entre os automóveis, já que ambos tiveram a importação estancada de supetão no mesmo momento.  Mas, dentre todos os anos e todos os lançamentos nesta fase, para nós motociclistas, o ano de 1986 foi o mais importante.
Foi neste ano que a Honda trouxe as primeiras unidades da CBX 750F (a famosa e desejada Black 86) e a Yamaha, em setembro, apresentou a RD 350LC (inicio das vendas janeiro/87).
Alguns números que ilustram aquele período.
Ano
RD350R/LC
CBX750F/Indy
CBR450SR
1986
868
1987
 6.945 
2.727
1988
3.105
2.183
1989
2.799
2.390
5.240
1990
1.618
1.435 *
3.346
1991
1.545
645 *
1.753
1992
755
471 *
877
1993
316
212 *
560
1994
6
381 *
584
1995
4 *
2
Total
17.089
11.316
12.362
Fonte Abraciclo – vendas no atacado                                                                              * modelo Indy                   
Digo que as motos saíram na frente, pois foi apenas em 1987 que o VW GOL GTS surgiu e em 1989 a Chevrolet colocou o Kadett GS nas ruas – com isso, nossa sede por esportivos estava se saciando.
Ao ver nas concessionárias a “Nova Sete Galo” com 16 válvulas em seu 4 cilindros e a “Nova Viúva Negra” com seu bicilíndrico 2 tempos refrigerado a líquido, com válvula YPVS controlada por “microcomputador”, ambas com 3 freios a disco, carenadas (semi)… Ficamos de boca aberta!

Os apelidos

Fiz questão de colocar o prefixo “novo” antes dos apelidos das motos, pois até hoje existe toda uma celeuma a cada vez que se chama uma RD 350 “a água” de Viúva Negra.  Os puristas no fundo da sala são os primeiros a gritar, explicando que Viúva Negra são apenas as primeiras RD 350 “a ar” dos anos 1970, que tinham freios a tambor e vitimaram muitos de seus pilotos…
Até hoje, mesmo ostentando 3 bons discos de freio, a fama de ser uma moto que não freia persiste!  Assim são as lendas urbanas, e eu vou te contar:  a RD 350LC com esse arsenal de discos a disposição freia suficientemente bem, obrigado!  Se tem algo que ela não tem – característica intrínseca de motores 2 tempos – é o freio motor!
O fato é que, chamar todas as RD350 de viúva negra, tanto as antigas quanto as modernas, acabou se tornando um padrão, para descontentamento dos puristas. Ontem ainda, eu assistia um vídeo no qual o Piloto Alexandre Barros durante o  programa Acelerados do YouTube, se referia a uma RD350R 1988 por…. viúva negra!  – Obrigado Barros! Acalmou os ânimos!
Gerson Campos, Alexandre Barros e Cássio Cortes – com RD 350R e CBR 450SR
no programa Acelerados, disponível no YouTube. – Barros: “- viúva negra”
Oficialmente, nenhum dos fabricantes assumiu tal denominação, seja internamente, seja em suas campanhas de marketing, elas sempre foram tratadas pelo nome de batismo.  Ou seja, o apelido é de domínio publico, e esse usa como lhe convir!
Aqui no Motos Clássicas 80, sem mimimi, deixamos o leitor a vontade pra chamá-las como quiser, reservando ou não o apelido original as “viúvas originais“… se quiser chamar de “bandida, tampa de caixão e etc” também pode.
Mas,  importante que conhecemos a origem do nome agora. – ahh em tempo: a  origem do nome da CBX 750F fica pra próxima, conto quando fizer a matéria dela, tá?   –  Alias, a partir de agora deixo de falar da “Sete Galo” e a pista está livre para a bandida, a RD 350LC.

A Sopa de letrinhas

Nome de príncipe, manja?  Tem que ser bem pomposo, longo, pra mostrar que vem de uma linhagem.  Assim funciona nessa esportiva, a RD 350LC – segundo a crença popular – pois o fabricante nunca assumiu – em tempos de internet essa informação se propaga a cada dia, mesmo sem a fonte oficial, a sigla RD significa RACING DEVELOPMENT, outros chamam de ROAD DEVELOPMENT…  Já que, mais uma vez, o fabricante nunca se pronunciou a respeito, eu prefiro usar a primeira opção. Pois ela deriva da TZ350, uma moto de pista efetivamente.
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Nome de batismo está na lateral RD 350LC
Já pro LC não tem confusão, todos concordam LIQUID COOLED – olha só, o fato dela ter refrigeração liquida era tão importante na época, que foi parar no nome da moto, no adesivo da lateral também.
Detalhe importante, a Sigla LC foi usada apenas em 1986 e 1987.  Neste ano a Yamaha concentrou a produção mundial das RD 350 na fabrica de Manaus, AM.  Em 1988 saíram então as RD 350R que exibiam a inscrição EXPORT na carenagem.  Receberam novos amortecedores dianteiros – Showa, freios a disco perfurados e carenagem integral, a partir deste momento a denominação trocou o LC pelo R.
350 estava referindo-se a cilindrada (jura!!!!!??!?).
Ahhh e lá no cabeçote do motor, que fica maravilhosamente exposto neste modelo, está escrito: YPVS, sigla que apareceu na RD 350LC e depois veio a se consolidar no final da década seguinte com as DT200.  YAMAHA POWER VALVE SYSTEM – nome pomposo pra uma válvula que faz toda a diferença nessa história. Essa pequena válvula de metal, que fica localizada logo depois de cada uma das duas janelas de escape da RD350, faz com que a geometria do escapamento varie, de acordo com a rotação do motor e demanda por torque.  Ela começa a abrir aos 5.500 rpm e vai abrindo acompanhando a subida da rotação até atingir a abertura máxima nos 9.000 rpm – acompanhado de uma gritaria fantástica emitida pelos escapamentos e o ganho de velocidade estupido ao qual ela está relacionada… A válvula é acionada por cabos e controlada por uma simples e pequena central eletrônica, que recebe do CDI a informação da rotação do motor e comanda essa abertura. Por ser eletrônica, em 1986 – nossa senhora – era o máximo!  E ao virar a chave de ignição pode-se ouvi-la sendo acionada, sinalizando pro piloto que acordou e está pronta a funcionar!
A válvula fechada garante melhor torque em baixas rotações e quando aberta, libera toda a potência.

Anos e modelos

Nossa historia de hoje começou em 1986, quando a RD foi relançada aqui.
A primeira versão é justamente a que ilustra essa matéria, tendo como características principais:
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Com “cara de bandida”, a RD350LC, apenas semi-carenada – mas a
carenagem integral podia ser comprada na rede de concessionárias.

– a sigla LC   incorporada  ao nome

  – a semi carenagem   com farol de formato   retangular (carenagem   integral vendida como   acessório original nas   concessionarias – o   quadro já trazia os   encaixes)
  – os discos de freio   sólidos (sem   perfurações para ventilar)
  As LC foram   lançadas   em 1986  e comercializadas em 1987.
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Em 1988 ao receber pneus sem câmara, foi considerada a
primeira motocicleta nacional a ter essa tecnologia.

Foi em 1988 que a RD recebeu suas primeiras   atualizações:

 – perdeu a sigla LC e ganhou a sigla R
 – passou a vir de fabrica com carenagem integral
 – pneus sem câmara. (ainda Pirelli Phanton)
 – novas válvulas de palheta.
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Foi apenas em 1991 que a Yamaha, pressionada pela concorrência da CBR 450SR, fez com que a carenagem integral recebesse um acabamento interno, escondendo todo o “avesso” de carenagem e fazendo com que seu belo quadro também ficasse por detrás dos plásticos. O farol retangular deu lugar a dois faróis redondos, e os espelhos que se pareciam com orelhas do Mickey, tão criticados na época, foram modificados também, ficando mais alinhados com as grandes esportivas.

Passou a ser calçada com os, mais modernos, Pirelli MT 75 (mesmo desenho usado nas CBR 450SR).
Já em 1993, sofrendo concorrência das importadas que voltaram ao pais, havia cumprido sua missão, e saiu de linha discretamente, suas ultimas unidades foram comercializadas em 1993

A técnica

Durante esse período, de 1986 a 1994, a RD350 pouco mudou mecanicamente falando. As alterações ficaram mais no campo estético, além de alguns detalhes e correções técnicos, como freio perfurado, evolução na válvula de palhetas, etc.
Motor bicilíndrico de 347cc, refrigerado a água, cilindros paralelos inclinados a frente com diâmetro de 64 mm e curso de 54 mm e taxa de compressão de 5:1.  Alimentado por dupla de carburadores Mikuni de 26 mm no venturi. A potência máxima de 55 cv está aos 9.000 rpm e o torque máximo de 4,74 kgf.m está aos 8.500 rpm.
Bem, essa proximidade da potência e do torque máximo explicitam a característica racing desta Yamaha, a faixa útil de apenas 500 rpm obrigando seu piloto a trabalhar muito, afim de manter o motor sempre em altas rotações, justamente onde essa cavalaria toda se apresenta.  Não que isso seja ruim, pelo contrário, pra quem “é do ramo“, é um enorme prazer faze-la gritar nos altos giros encontrando a faixa mágica de potência e torque, mas, pra quem quer passear, bem, a RD não foi feita pra passear…
O cambio de 6 velocidades é muito bem escalonado, de engates suaves, com alguma dificuldade na hora de achar ponto morto apenas.
Com 176 kg em ordem de marcha, para os padrões atuais é uma moto muito pesada, mas na época era assim…  As grandes 1000cc atuais pesam isso, ou talvez menos. Com potência quatro vezes maior.
Os pneus, com medidas – dianteiro 90/90 R18 e traseiro 110/80 R18 também nos chamam atenção por sua diminuta largura.
Como comparação atualmente:
Honda CG160 FAN por exemplo, é calçada com pneus 80/100 R18 na dianteira e 100/80 R18 na traseira.
E as esportivas de média cilindrada atuais, como no caso a Yamaha R3 que calça 110/70 R17 na dianteira e 140/70 R17 na traseira.
Eu não sou fã dos aros 18 em motos esportivas, prefiro os 17, melhor ainda 16… mas, confesso que na RD o conjunto suporta, ela foi projetada para usar tal aro, e o resultado me agradou.  Poderia ser melhor em curvas travadas com aro menor na dianteira?  sem duvida a entrada de curva seria mais rápida, a moto ficaria mais afiada no que diz respeito a handling… Mas quem sou eu pra achar defeito nessa maquina? Aros 18 e não se fala mais nisso.

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5 thoughts on “Yamaha RD350LC – a moto com testosterona!

  • Agora sim !!
    Matéria espetacular da RD!
    Os Rdzeiros agradecem!!
    Pra ficar completa a matéria só faltou o cheiro do 2 tempos que as sete galos sentiam !!!
    Rsrss

    Resposta
  • Ótima matéria. Realmente, e infelizmente, ficamos numa defasagem gigantesca à partir de 1976. Além do atraso nos veículos motorizados, nossas competições também andaram para trás. Equipamentos então, nem se fala, nem é bom lembrar.

    Resposta
    • A sigla LC teve que ser retirada por conta de uma ação na justiça movida pela Agrale, em contra partida a Yamaha fez com que ela retirasse o Explorer da sua 200cc de trilha. Esse foi um comentário de uma revista da época que não me lembro se foi na Duas Rodas, Moto show ou outra revista. Será que alguém poderia pesquisar?

      Resposta
  • Parabéns pelo conteúdo deste blog, fez um ótimo
    trabalho!
    Gostei muito.
    um grande abraço!!!

    Resposta
  • Eu tenho um rd135z 1990 com carensje

    Resposta

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